Consumo de pequenos itens favorece crescimento de cidades do NE

O Nordeste começa a experimentar acomodação das contratações no mercado de trabalho, mas ainda preserva a perspectiva de expansão da atividade superior à esperada pelo Banco Central em nível nacional.

Um dos segmentos que contribuem para esse crescimento é o de supermercados. O consumo itens de giro rápido, como bebidas, higiene pessoal e doméstica, mercearia e perecíveis, cresce 17% mais que a média do consumo desses produtos no Brasil, segundo o instituto Nielsen, que, a partir de uma pesquisa realizada em mais de 600 municípios, concluiu que a região ainda preserva alto potencial de mercado para o setor supermercadista.

No Nordeste, esse crescimento foi de 7,6% neste ano até abril, em comparação com o do mesmo período de 2013, enquanto, no Brasil, a alta foi de 6,5% na mesma base de comparação.

É no Nordeste que está o maior número de cidades com a maior concentração de pessoas que possuem perfil aumentador de gastos –que inclui convivência com crianças, pessoas de nível sócio-econômico C,D e E e com donas de casa de até 30 anos de idade.

A Folha visitou duas cidades de destaque neste grupo, São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, e um município com o mesmo nome no Ceará.

Supermercados no Nordeste

Na São Gonçalo cearense, a relevância se deve aos investimentos no complexo industrial e portuário do Pecém. No homônimo localizado na região metropolitana de Natal foi o aeroporto, inaugurado para a Copa, que atraiu interesses imobiliários e, consequentemente, empregos na construção.

Outras dezenas de São Gonçalos, com outros nomes, como Conde, Alhandra, Trairí etc, tiveram o consumo de itens para o abastecimento do lar impulsionado pela instalação de indústrias em suas proximidades.

“Antes da siderúrgica, meu marido vivia de bico. Agora ele é empregado e eu posso comprar até pizza congelada”, diz a dona de casa Claudia Quezado, 41.

Para a recém-desempregada Ana Keila Silva, 26, o benefício do governo também ajuda a aquecer o comércio. Enquanto espera os trâmites do Bolsa Família, em que acaba de se inscrever, ela abastece a casa com o auxílio que a mãe recebe por invalidez.

“A sensação de que a economia vai bem é mais um motivador de um recente movimento de retorno migratório, porque o custo de vida no Sudeste ficou muito alto”, diz Maurício Prado, sócio da empresa de pesquisa Plano CDE.

Para Marcelo Queiroz, presidente da Fecomércio RN, o consumo ainda reprimido da classe ascendente vem conseguindo manter a aquisição, mas os itens são cada vez mais básicos. “No varejo como um todo, este movimento começa a minguar. Segmentos em que o aumento de endividamento e inadimplência são sentidos mais forte estão amargando desacelerações brutais”, diz Queiroz.

TERROR DA CONCORRÊNCIA

Alex Araújo, diretor da Fecomércio CE, diz que “apesar desse processo de adensamento econômico, não houve ainda uma mudança significativa no padrão de vida”.

A rede Mãe Rainha planeja expansão, segundo o gerente Joás Dias, 26, que atua desde os 15 anos no varejo, mas nunca teve chance de se especializar.

“Aqui em São Gonçalo tem esse crescimento todo no comércio, mas não tem universidade. A mais próxima fica em Fortaleza, a 50 km daqui. Eu queria estudar para um dia ser diretor de compras.”

Segundo o jovem, a rede também se beneficia da ausência de uma concorrência, que ainda não se instalou no município emergente. Destemido, Dias acredita que ele vai ser o “terror da concorrência” se puder cursar uma faculdade de administração.

Na São Gonçalo do RN, os rumores de que uma grande rede se aproxima apreende.

“Quando começou a obra do aeroporto, até gringo apareceu aqui no supermercado. Tem gente falando que vem uma rede grande aí. Fica difícil competir’, diz Francisco Laurentino, fiscal de caixa do Super Show Tela Quente.

Editoria de Arte/Folhapress

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Fonte: Folha de São Paulo
JOANA CUNHA
ENVIADA AO RIO GRANDE DO NORTE E AO CEARÁ
25/12/2014 – 02h00

Link: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/folha-online/dinheiro/2014/12/25/consumo-de-pequenos-itens-favorece-crescimento-de-cidades-do-ne.htm